Para Márcio Lopes, o início de 2020 dificilmente poderia ter começado melhor! De uma só vez, ganhou dois prestigiados prémios de vinhos em Portugal: o Prémio Revelação do Enólogo 2019, da Revista Essência do Vinho e o Prémio Singularidade da revista Vinho Grandes Escolhas. Para quem percebeu pela primeira vez a existência do nome Márcio Lopes devido a esses prêmios, certamente pensou que ele deveria ser alguém que criasse algo novo, revelando atenção e que isso seria feito de originalidade, de caráter, de forte digital. impressão, como definir o prêmio, algo selecionado com singularidade. No entanto, seus vinhos tiveram uma longa legião de admiradores. Na Evasões, Fernando Melo apelidou Márcio de “gênio criador de vinhos!”, um grande elogio, pois Fernando conhece seu país e seus vinhos como poucos. O sonho do Márcio era fazer Vinho do Porto. Na sua cabeça, no início da carreira, o seu ideal era ir ao Douro e fazer o famoso “vinho fino”. Para este portuense, sem pé no mundo do vinho, filho de costureira e vendedora, sem um pedaço de terra e alguém que adquiriu o gosto pela agricultura através dos avós, surgiu o objetivo de ir ao Douro, algum tempo depois, mas de uma forma bem diferente do que se imaginava. Estudar engenharia agronômica seria o itinerário inevitável, para realizar esse sonho. Durante os seus estudos, em 2005, o destino quis que a primeira colheita fosse ainda mais a norte, no último limite a norte do país, em Melgaço. Foi lá que trabalhou ao lado de um dos grandes mestres da região e do país, também com uma mentalidade e pensamento superior à própria região, o enólogo Anselmo Mendes. Aliás, à parte, alguns dos nomes marcantes, mais novos ou mais antigos, da vitivinicultura atual, estiveram ao lado de Anselmo. Naqueles tempos, Márcio fez tudo, tudo o que é menos visível e menos perceptível, mas tudo o que é mais importante, mais edificante e fundamental, que é arregaçar as mangas e colocar as mãos (e pés) na massa. Dobre e puxe mangueiras, mova todo o equipamento de um lado para o outro, ande com uma enxada, colha uvas, lave, etc., tudo que é a vida real desta atividade. Hoje, como não poderia deixar de ser, ele agradece, transporta e passa esta mensagem. Como o Márcio diz muitas vezes, não começou do zero, começou abaixo de zero, "menos um!" Com seus estudos concluídos em 2006, mudou-se para a Austrália em 2008, onde permaneceu por dois anos. Um país nos antípodas, mas naquela época e ainda hoje, uma referência de inovação e conhecimento em todas as áreas desta atividade. Em 2010, Portugal começou a tomar forma para Márcio, como as suas ideias, com um número que deu origem aos primeiros vinhos, 1000 garrafas de Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço e 600 garrafas da sua região, o Douro, com a marca Proibido. Depois de uma década, os prêmios refletem o espírito experimentalista, inquieto, mas com saberes, não só os saberes da escola, saberes também ligados aos saberes dos idosos, saberes da experiência que atravessa gerações. "Ninguém quer trabalhar para baixos rendimentos, andar com escadas a trabalhar numa vinha ou nos degraus de uma escada para tratar uma vinha pendurada, utilizando castas autóctones de cada região". Márcio investiu em vinhas velhas, em vinhas únicas, em castas que caíram em desuso, dá-lhes uma nova vida, arrisca-se a não fazer mais, idealmente que o vinho expresse a terra, as gentes, para descobrir vinhos únicos. Ele interage com as pessoas, com pessoas que interagem bem com a natureza, premia-as, pagando melhor a quem promove a sustentabilidade. Até as designações dos seus vinhos evocam essa mensagem, “antiquado”, “selvagem”, “branco centenário”. Na adega, não se poupa na busca da precisão, da pureza, no uso de leveduras selvagens, na ínfima adição de dióxido de enxofre, mesmo que para isso tenha que fazer do barril uma almofada de dormir, para atender prontamente qualquer necessidade . Tudo isso para fazer as pessoas felizes. Feito por Márcio Lopes e com o seu nome, obras-primas do Vinho Verde, do Douro e até do vinho de sotaque galego da Ribeira Sacra dão frutos, onde explora uma pequena vinha de meio hectare com cerca de 70 anos. O sonho continua dez anos depois, enquanto cresce e evolui. Márcio adquiriu um imóvel nas margens do Douro, na Quinta do Pombal em Vila Nova de Foz Côa, outro projeto pessoal, também como projeto familiar e legado. Chegou a norte, a 500 metros de altitude, com 5 hectares, 1 hectare de vinha plantada em 1957, posta à sua disposição, à mercê da sua criatividade. Também na região dos Vinhos Verdes, em 2020, fez investimentos para melhor controlar todos os processos. Tem consciência de que tudo tem o seu ritmo, como se referiu numa brilhante expressão "grandes dias têm 100 anos". Quase sem sentido, e certamente sem intenção, Márcio parece estar certo, um estilo “Dirk”, como Dirk Niepoort, para vinhos e inspiração. Não raramente, pelo menos. Mas é na mensagem, na atitude, na forma de viver o que diz, dizer algumas coisas, que à primeira impressão parece pouco importante, e ao prestar atenção, há um sentido profundo, sente-se ou estrutura-se, e até algo visionário! De Márcio, sabemos que mais grandes criações virão por aí, vinhos cheios de alma, caráter e frescor a cada gole.