Vidigueira. Do anfiteatro no último andar da adega, as encostas suaves se sobrepõem até onde a vista alcança. As linhas divisórias são descobertas pelas curvaturas das colinas, linhas feitas de árvores, com linhas flutuantes de trepadeiras eretas. O som da água da cascata no pátio, a paz, a orquestração musical do campo, a luz que ilumina e aquece os nossos rostos, faz-nos agarrar à cadeira em contemplação. É nesta adega, fábrica, feita de muitos espaços, zonas de gente, lugares de cultura, também espaços sagrados, intimistas, reservados à afinação dos vinhos, às autênticas joias e gemas. Tudo está bem camuflado na paisagem, escondido pelas paredes de barro, de pura arte alentejana, que, entre outros atributos, permite estabilidade térmica para a conservação dos vinhos. Afinal, estamos no Alentejo quente. Mas este Alentejo do Rocim é especial. É diferente! Esta fotografia emoldurada tem uma história. Tem histórias e enredos. Voltando ao ano 2000. Ano emblemático, fim e início de um novo século, início de novos tempos, de novos sonhos. Foi então nestes novos tempos que pai e filha embarcaram em seus sonhos. José e Catarina içaram a vela para a aventura, de Leiria ao Alentejo, arregaçaram as mangas, para moldar a terra, para esculpir os vinhos imaginados. O sonho, a emoção andavam de mãos dadas com a razão. Afinal, são pessoas acostumadas aos números, à organização, à competitividade do mundo dos negócios. A par de outros que se juntaram a eles nesta viagem, a criatividade, o dinamismo e o trabalho em equipa foram as ferramentas que o vinho viria a demonstrar e recompensar. Queriam marcar a diferença pela qualidade da vinha, pela personalidade dos vinhos, para deixar a sua marca. Desde o primeiro momento, alguns dos mais renomados especialistas em viticultura e enologia contribuíram para o projeto. Começar do jeito certo era a chave. Hoje, são Catarina e o marido Pedro Ribeiro, que lideram o projeto. Catarina Vieira cuida da viticultura, ela que só queria um pedacinho de terra para pôr em prática o que aprendeu com os melhores, trabalha com diligência imensurável, com seriedade e transparência, em algo já muito maior do que o sonho. Pedro Ribeiro, enólogo e director-geral, que chegou com o comboio em marcha, como uma locomotiva de alta velocidade, deu ao projecto uma nova velocidade, de dinâmica, criatividade, diferença e muita qualidade. Os vinhos mostram o sabor dos terroirs da propriedade, têm de invocar a diversidade dos 70 hectares de vinha. Os enólogos se preocupam com o meio ambiente, a sustentabilidade é um pilar indiscutível, assim como a preservação da natureza. O seu símbolo nos rótulos é a Linaria ricardoi, uma planta rara, na qual a Rocim se dedica ativamente à sua preservação. Tudo tem que ser integrado! Bons vinhos vêm sempre de boas uvas, por isso a viticultura na Rocim é a base de tudo. Nos 70 hectares de vinha, 20 hectares são de vinhas velhas já existentes antes da aquisição, plantadas em solos arenosos, apenas com castas tradicionais, 60% são tintas. Na restante área de vinha, existem castas nacionais e internacionais, de diferentes idades. A filosofia enológica é a da intervenção mínima, apenas com leveduras selvagens, juntando o conhecimento da enologia moderna ao conhecimento de formas ancestrais de vinificação, como a talha alentejana. Não por acaso, a Herdade do Rocim teve a iniciativa pioneira do Dia da Ânfora, uma celebração em torno dos vinhos talhados, uma tradição ancestral no Alentejo, mas que também dá a conhecer outros países produtores de vinho que utilizam este método tradicional. A história segue e vai desenvolver-se e desenvolver, sob a bênção da excepcional frescura da Vidigueira, um Alentejo diferente, que pelas mãos da Rocim faz vibrar os vinhos que aqui nascem com energia e sofisticação.