Ao experimentar o Douro, ao sentir o palpitar das vinhas ao longo daquela que já foi considerada a melhor e mais bela estrada do mundo para os entusiastas da condução, olhamos as encostas de ambos os lados e reconhecemos alguns dos nomes mais famosos da quintas e marcas de vinho do Douro e do Porto. Bem no meio desta estrada entre a Régua e o Pinhão, em Adorigo já no concelho de Tabuaço, deparamo-nos com a Quinta do Pôpa. Apesar da juventude do projeto, situa-se numa das zonas mais nobres da região, com vários dos grandes nomes históricos do Douro nas proximidades. Pôpa era a alcunha de Francisco Ferreira, o bastardo de um grande lavrador duriense, que viveu a sua vida sem ser reconhecido como filho ou irmão. O seu maior sonho era ter um terreno no Douro, onde pudesse produzir o seu próprio vinho. Não conseguiu concretizar, mas foi um dos seus filhos, José Ferreira, conhecido por Zeca do Pôpa, que o tornou realidade. Foi uma saga alimentada pela fé e determinação, e finalmente o sonho se tornou realidade. Aos 16 anos, José emigrou para a França para dar uma vida digna à mãe e aos irmãos, um menino e uma menina muito jovem. Lutou até o limite de suas forças, mas nunca desistiu, pois sempre acreditou que o sonho comanda a vida! No regresso a Portugal, investiu no Douro e em 2003 comprou a Quinta do Vidiedo (então baptizada Quinta do Pôpa). Como desejo colectivo de gerações, o Pôpa sonhou, o seu filho Zeca materializou-se, os seus netos Stéphane e Vanessa Ferreira, são os gestores e rostos da Quinta do Pôpa. Vanessa e Stéphane continuam a sonhar e a criar novos sonhos de uma forma muito particular e única, sob o lema - Sonhar > Criar > Celebrar - que lhes assegura uma permanente inquietação e irreverência, um turbilhão interminável de conceitos e rupturas sem nunca pôr em causa a qualidade de seus néctares. A produção de vinhos aconteceu mais tarde, em duas fases: em 2007 para família e amigos, feita sob a orientação de Luís Pato, conhecido enólogo e amigo da família que, certamente, intencionalmente ou não, transmitiu alguns dos seus irreverência. Em 2010, a venda dos vinhos passa a ser um objetivo e logo a seguir, em 2012, há a aposta no enoturismo, de oferta inovadora e muito elogiada por quem o experimenta. A propriedade é uma verdadeira jóia vitivinícola. Tem 30 hectares, dos quais 14 são vinhas, todas com classificação A, a classificação mais elevada atribuída às vinhas da região. Tem apenas uvas tintas, com destaque para os quatro hectares de vinhas velhas, com mais de 80 anos e onde estão presentes 22 castas. Além de uvas próprias, promove o desenvolvimento da comunidade agrícola local, adquirindo anualmente uvas de outros agricultores, sempre sob o acompanhamento e controlo técnico da equipa de viticultura e enologia, para que a qualidade seja garantida. Os seus vinhos aliam tradição e inovação, onde a pisa é feita a pé em lagares de granito, apoiados na tecnologia da adega. Eles procuram garantir que seus vinhos expressem um "verdadeiro senso de lugar". Os vinhos, para além das gamas clássicas, destacam a exploração das possibilidades notáveis que a riqueza da herdade lhes oferece: vinhos varietais, vinhos monovarietais, vinhas velhas, até o 'Pôpa Vinho Tinto Doce' (o primeiro vinho tinto doce produzido no Douro). A irreverência, a homenagem, a homenagem, estão sempre presentes, desde o projecto 'Pôpa Art Projects' aos "Tribute Wines" aos mais recentes lançamentos de inspiração contemporânea, que sob o lema "Dare to Dream", apresentam uma linha experimental de vinhos dos quais resultam na primeira edição um branco curtido e duas ânforas, uma branca e uma tinta. Estes são os primeiros vinhos, a seguir-se outros que cumprem os perfis idealizados por Stéphane Ferreira, agora em parceria e harmonia com o talentoso Carlos Raposo, o novo enólogo da Quinta do Pôpa. Dos maiores desafios são feitos os trabalhos mais saborosos, como dizem nos rótulos: "Estradas difíceis muitas vezes levam a belos destinos".