Para Miguel Dias, até à adolescência, o vinho sempre fez parte do seu mundo. Mais tarde abandonou a carreira comercial e o vinho tornou-se, agora com outra determinação, o centro do seu universo. Seus talentos comerciais se voltaram para o vinho.
Mudou-se para o Brasil onde fundou a empresa Ementa de Portugal. Mais tarde voltou a viver em Portugal, sempre de mãos dadas com o vinho, tirando partido das suas aptidões e experiência comercial. A formação em Ciências Florestais, Educação Ambiental e Enologia, que se somou à influência rural-familiar, permitiu-lhe “fermentar ideias” e desenvolver o seu próprio projeto de produção de vinhos que o levou em 2016 a iniciar a produção para alguns clientes no Brasil até definir loja. pandemia mundial em 2020.
A pandemia decretada pela disseminação do novo coronavírus causou danos e mudanças dramáticas no cotidiano e nas atividades de todos os cidadãos ao redor do mundo. Para Miguel, este acontecimento significou a paragem das exportações e o início de um ciclo assustador, que o levou a refletir, percebendo-se dependente de um único mercado. Identificada esta vulnerabilidade, adiantou-se e com renovado vigor criou um projeto com a marca “Estoirowines”, visando os mercados português e europeu.
Foi o “retorno às origens”, aliando a ciência, o respeito pelo terroir, pelas castas autóctones, valorizando a viticultura em cooperação com uma estreita ligação aos elementos que ainda existem no mundo rural.
O conceito privilegia, na adega e na vinha, a ideia de “baixa intervenção, olhando a vinha como uma comunidade e um ecossistema cheio de biodiversidade.
E os vinhos tinham que ser um “blowout”. De “descoberta” em qualidade e personalidade alicerçada numa incansável e indiscutível dedicação à vinha, assumindo a designação “vinhos de autor”, complexos e versáteis, tendo na primeira fila a essência da vinha, a influência do “terroir” local no vinho.
Este autêntico “retorno às origens” materializa-se em vinhos feitos com uvas de vinhas velhas localizadas na Beira Interior com as quais faz tintos – Avó Irene, Paragrafo, Vinhas Antigas – o branco (Vinhas Velhas) e um rosé “Old School”. São vinhos elaborados com várias castas tradicionais da região como Touriga Fêmea, Marufo, Rufete e Alfrocheiro para os tintos e rosés. Nos brancos dá voz às castas Sírio, Fonte Cal Arinto, Alicante Branco Malvasia Fina, entre outras.
Os vinhos seguem uma vinificação “simplista” onde não há utilização de madeira e as fermentações ocorrem de forma espontânea, sem filtração e a fase final da garrafa molda a silhueta final de cada vinho.
Para Miguel, cada ano tem a sua história. Em dezembro de 2017, a vinha acordou com um manto de geada, sem chuva e muito frio. Destas uvas quase em passas contaminadas com Botrytis cinerea (podridão cinzenta ou nobre) e criteriosamente selecionadas e colhidas “bago a bago” surgiu um vinho com semelhanças a um vinho gelado, o “Maria Augusta Colheita Tardia”.
Menu de Portugal é uma carta de vinhos de autor com muitos movimentos que combinam com terroir e atitude.