O vinho sempre esteve em seu sangue. Seus avós eram produtores e seu irmão mais velho era enólogo. Talvez, antes mesmo de saber, seu destino como enólogo e produtor de vinho já estivesse traçado para ele. Os seus avós maternos e paternos eram produtores nas regiões do Dão, Douro e Vinhos Verdes. Desde cedo João Cabral Almeida esteve envolvido com o vinho e com o mundo do vinho. Na sua família de oito irmãos, cinco trabalham no setor vitivinícola. O seu destino no vinho acabou por ser uma escolha natural, decidida pelo gosto e não por qualquer tipo de imposição. Estudou Agronomia no ISA, sabendo que a enologia e a viticultura seriam o seu futuro. Durante o seu percurso académico realizou vindimas em vários pontos do país e do mundo, tendo os seus irmãos como conselheiros em projetos indicados pelos irmãos. Passou pelo Esporão, Taylors, Sogrape, Symington, entre outros. Passando pela Argentina, entre outras regiões vinícolas. No início da sua carreira profissional procurou trabalhar com os melhores mentores, que João Cabral de Almeida considerava uma referência. Mas Anselmo Mendes foi uma das pessoas que mais influenciou a sua carreira, e com ele ganhou uma visão global do setor vitivinícola. Apesar de trabalhar com estes enólogos de referência, começou cedo a ensaiar e experimentar algumas ideias. Nesse meio tempo, começou a seguir seu próprio caminho entre consultorias em projetos que gosta e também desenvolvendo seus projetos pessoais. Reparte o seu tempo entre o Vinho Verde, sem nunca sair do Douro, agora acrescentado ao seu projecto pessoal Omnia, e o regresso ao Dão, onde viveu até aos 17 anos. É aqui que ensina viticultura e desenvolve os seus projectos Musgo e Liquen. João Cabral de Almeida vive o mundo do vinho com grande paixão, apesar das enormes exigências que faz. É um daqueles enólogos que dá a cara pelos seus vinhos, onde viajar é uma constante. É daqueles que acredita que Portugal tem muitas coisas boas e há muito para fazer e explorar, que é o que faz, inspirando-se em exemplos de resiliência e notoriedade como a Borgonha e Saint-Émilion. Os seus projetos mais recentes são na região do Dão onde trabalha em algumas sub-regiões, com destaque para Silgueiros e Serra da Estrela, embora um pouco por toda a região. Há alguns anos que faz ensaios com parcelas de 40 anos em média, com um conjunto de castas raras a par de outras mais conhecidas. Trabalhar com vinhas velhas e mistas é sempre um desafio constante, decidindo todos os anos a data da vindima, o que colher e como vinificar. Observa e interpreta a natureza e, sem receita, procura a vinificação certa com o objectivo de engarrafar o local de origem. Adora a sensação de mineralidade nos tons quase salinos dos vinhos devido à influência do granito. Moss e Lichen são os nomes destes vinhos. Os nomes são um tanto peculiares, mas têm um significado muito ligado à região. O musgo é algo que marca muito a paisagem do Dão, pois é uma zona com muitas zonas onde existe alguma humidade e frescura. É também um descritor que sempre foi utilizado na degustação dos vinhos da região. Já o líquen significa a simbiose entre o fungo e uma alga que surge em locais sem poluição e com este nome, João Cabral de Almeida pretende reproduzir a noção de pureza do vinho. Ambos são vinhos de pura expressão da região, com pouca intervenção, o Musgo como mensageiro da tradição da mistura de vinhas e castas e o Líquen a pureza e identidade de uma casta num local específico. O Omnia, do Douro, vem de um terreno de baixa altitude, mas ostenta, por si só, uma frescura natural e grande finesse, com uma forte identidade do terreno, que produz muito pouco. João Cabral de Almeida, sorri, os olhos brilham, tem a certeza de que está finalmente a trazer ao mercado os vinhos que aspirava fazer.