A Adega Belém é uma Adega Urbana em Lisboa. Localizado na região de Belém, próximo a muitas outras atrações conhecidas. A ponte pedonal que dá acesso ao MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia - deixa-nos praticamente à porta desta adega urbana pioneira e única em Lisboa e a única do género, até onde sabemos, no país. É muito diferente dos locais onde o vinho jorrava directamente das barricas para as taças e onde eram servidos alguns petiscos pelo meio, locais a que estamos habituados a chamar de adegas. Na Adega Belém também pode tomar uma bebida e petiscar. Mas essa é a única coisa que eles têm em comum. A grande particularidade é que na Adega Belém os seus vinhos são feitos precisamente neste espaço. Uma autêntica mini adega "profissional" em pleno funcionamento. Cubas, prensas, mangueiras no chão, barricas e paletes, tudo o que uma adega normal tem, com a diferença de que esta está ao virar da esquina, perto da paragem do eléctrico da Carris. As uvas são provenientes de vários locais da região vitivinícola de Lisboa, da Península de Setúbal, juntamente com outras uvas colhidas nas vinhas da Tapada da Ajuda que faz parte do Instituto Superior de Agronomia em Lisboa. "Um vinho de Lisboa, feito em Lisboa." O espaço que hoje é a Adega Belém foi em tempos uma oficina automóvel, testemunho eternizado pelos muitos artefactos que adornam a sala de provas. O casal responsável por este projeto é Catarina Moreira e David Picard, investigadores universitários, ela bióloga e ele antropólogo, antes de se dedicarem à enologia. A rã ibérica é o logótipo da adega, e está relacionado com a actividade anterior da Catarina que se dedicava ao estudo comportamental desta rã. Sendo bons académicos, a base é sempre o conhecimento, por isso estudaram enologia e viticultura no Instituto Superior de Agronomia e na Universidade de Geisenheim, na Alemanha. Catarina tornou-se enóloga assistente no Valais suíço, passou pelo Alentejo e mais tarde, em 2017, tornou-se enóloga residente na Herdade da Barrosinha em Alcácer do Sal, onde trabalhou até 2019 com António Saramago. David, por sua vez, faz pesquisas sobre enoturismo em todo o mundo desde 2016, da África do Sul à Califórnia, Bordeaux, Áustria e até China, o que o ajudou a entender como trazer o enoturismo para o século XXI. A busca por uma localização urbana "industrial" os levou ao espaço atual, seguido pela saga da superação dos muitos entraves burocráticos. Os obstáculos foram superados e, no início de 2019, eles começaram a trabalhar na transformação do espaço. Os vinhos da safra 2020 já eram feitos nestas instalações. Depois de tudo pronto, a pandemia e o confinamento surgiram como mais um desafio a vencer no que diz respeito ao enoturismo. A partir de 2021, isso já está bem encaminhado, constituindo parte essencial do plano estratégico do projeto. Neste ponto oferecem um conjunto de atividades diversificadas e até alguma inovação. No que diz respeito aos vinhos, a sua abordagem é de baixa intervenção na vinificação combinando técnicas tradicionais de fermentação espontânea, envelhecimento em barricas de carvalho, pisa a pé e maceração pelicular com técnicas mais modernas. As questões de como minimizar o impacto ambiental são uma preocupação que eles abordam por meio de medidas como um sistema de acionamento de frequência variável para reduzir o consumo de energia, uso de filtros de separação de sólidos e até sua própria estação de tratamento de águas residuais. A qualidade do vinho e a sustentabilidade do material de embalagem, entre outros, andam lado a lado. Utilizam garrafas ligeiras de Bordéus e rolhas de cortiça natural, caixas de cartão reciclado em todas as entregas e até integram os sistemas de reciclagem dos países para onde enviam o vinho. Mais do que uma mensagem comercialmente aceita nos dias de hoje, para Catarina e David, as questões de sustentabilidade e ecologia são uma atitude, uma postura e uma forma de estar em comunidade. Os vinhos levam nomes originais, bem como rótulos criativos. A gama Cellar Dog Selection é a gama de entrada, dividida entre Cookie, a coelhinha das crianças, que baptiza o vinho branco, e Lili, a cadela, que dá nome ao tinto. A restante gama é composta por uma série de vinhos monovarietais, Encruzado, um Alvarinho com curtimenta, um Moscatel Galego branco também com curtimenta, e um invulgar Moscatel Graúdo com curtimenta em ânfora denominada Unicórnio. O tinto Adega de Belém Reserva é um blend de Touriga Nacional e Alicante Bouschet. Da série Rabo da Rainha, para além dos vinhos brancos e tintos, há um rosé da colheita de 2020 feito a partir do Castelão co-fermentado com borras grossas da casta Moscatel Graúdo. Vinhos muito interessantes, de alguma ousadia e experimentação, com qualidade e muito para contar. Novos vinhos estão a ser feitos num misto de irreverência, inovação e provocação que os torna um bom motivo para os conhecer. Catarina e David são anfitriões igualmente perfeitos, seja para o simples conhecedor de vinhos ou para quem quer conhecer um pouco mais da sua casa. Não faltam motivos para se interessar em conhecer este projeto, pela sua diferenciação em todos os aspetos e, claro, por estar na vizinhança.