Luís Pato e Bairrada, sem esforço pode ser considerado um casamento natural. Seja por acaso ou então, fruto de um destino inevitável, já predestinado antes mesmo de ser. O DOC Bairrada foi criado em 1979, um ano depois Luís Pato produziu o seu primeiro vinho, na altura um 100% Baga, quando ainda era criticado pela sua qualidade. Hoje, quatro décadas depois, "Senhor Baga" ou "senhor Bairrada" são alguns dos epítetos que lhe são atribuídos. Herdou o espírito inconformista e pioneiro do seu pai João Pato que começou a engarrafar vinho das suas próprias vinhas em 1970, facto significativo numa época de prevalência de cooperativas e armazenistas. Tornou-se o primeiro produtor/engarrafador da região da Bairrada após a sua demarcação. Luís, engenheiro químico de formação, decidiu em 1984 trabalhar a tempo inteiro na área do vinho, no seu projeto, dando assim continuidade à longa tradição vitícola familiar. Existem documentos que comprovam a produção de vinho desde o século XVIII na Quinta do Ribeirinho. Luís Pato rapidamente se tornou uma das personalidades vitivinícolas de Portugal, o ''revolucionário da Bairrada'', que domou a casta Baga, agitou as águas da região e até abandonou o DOC Bairrada em 1999. Porquê? “O governo português nomeou um homem para liderar a Bairrada que não era o homem certo. Assim, para mostrar o cartão amarelo, mudei-me da Bairrada para o Beiras. Ele explicou em uma entrevista com o especialista em vinhos Jamie Goode. Citou ainda duas razões para não querer regressar à Bairrada. "Não quero ser confundido com o novo comércio mundial e o uso de castas francesas, e acho que a região das Beiras tem de estar unida, e a Bairrada deve ser apenas uma sub-região dos tintos de topo." Mais tarde inverteu a decisão e regressou ao DOC Bairrada. Não ficou em vão desacordo, que às vezes se torna vazio por falta de conteúdo e contradição sustentada. O espírito experimentalista e científico típico de sua formação em química que, por tentativa e erro, de testar teoria, além de olhar o mundo fora da região e até fora do país. Um exemplo de sua mente aberta é o fato de ter sido o primeiro júri estrangeiro a participar do International Wine Challenge, a maior degustação às cegas do mundo, realizada todos os anos em Londres. Luis descreve esta experiência como "minha universidade de degustação". Essas experiências lhe deram um portfólio de inovações, atitude ainda atual. Foi um dos pioneiros na região a vinificar uvas sem desengace, a envelhecer em barricas novas de carvalho francês e a lançar o primeiro pé-franco, bem como o 'single vinha', Vinha Barrosa, Vinha Barrio, Vinha Pan , Vinha das Valadas, Quinta do Ribeirinho Pé Franco e Vinha Formal. Este último vinhedo, famoso por um belo vinho branco, tem uma história interessante por trás. Em 1867, António Augusto de Aguiar produziu um mapa da sua demarcação da Bairrada com uma linha amarela à volta da zona que julgava ser a melhor para os vinhos brancos (o mapa encontra-se no museu da Bairrada). Luís Pato decidiu confiar neste mapa e comprou a vinha Formal, que tem solos argilo-calcários e o resultado é este vinho branco complexo, intenso e com notável capacidade de envelhecimento. Mais recentemente, em 2008, acrescentou a designação Monopólio depois de adquirir a última parcela da vinha Barrosa e tornar-se o único proprietário de vinhas naquela localidade, ao verdadeiro estilo borgonhese. Foi pioneiro na criação do seu primeiro espumante de vinha única - Vinha Formal - com base nas castas Bical e Touriga Nacional, além de dar asas à sua imaginação ao fazer os seus primeiros vinhos naturais doces (branco, rosé e tinto), denominados Abafado Molecular. E isso não é tudo. Já em 1995 praticaria algo como a viticultura de precisão, vindimas da mesma vinha em épocas diferentes, para a produção de espumantes e vinhos tranquilos, entre outros. Mesmo em marketing e comunicação, Luis Pato tem uma incrível capacidade de promover seus vinhos e sua marca. Começou com o primeiro vinho que quis chamar Óis do Paço, que foi recusado pela Junta Nacional de Vinhos. Assim nasceu a marca Luís Pato. Ele se autodenomina "Produtor Rebelde", substituindo o papillon que o caracterizava por camisetas onde aparece com a língua de fora e fazendo caretas e caretas, entre outras mensagens condizentes com a hashtag do momento. Parcerias com vários produtores e com suas filhas. O enoturismo é desde há muito uma peça fundamental da sua atividade, com um espaço preparado para o efeito, onde recebe profissionais e apreciadores dos seus vinhos. Tem uma loja de vinhos, programas de visita com provas de vinhos com marcação e almoços de assinatura, sendo ainda possível participar em cursos de vinhos. Vinho e gastronomia, eixo a que dá muita importância, onde até realiza momentos gastronómicos com a assinatura de chefs de renome, nacionais e internacionais, sempre acompanhados pelos vinhos da casa. E continua a fazer momentos e produtos disruptivos, a exemplo do projeto Duckman, movendo-se como um peixe na água entre o classicismo e as tendências do momento.