Nos últimos anos, percebeu-se que no meio do Oceano Atlântico, a meio caminho entre Portugal e o continente americano, um mundo estava surgindo, mostrando um copo aos apreciadores e muitos turistas que visitam os Açores, um conjunto de vinhos espetaculares, especialmente brancos , elaborado num conjunto de condições únicas, condições já reconhecidas como Património Mundial pela UNESCO desde 2004. Entre um pequeno grupo de produtores, que tudo fizeram para extrair os vinhos açorianos de uma letargia estática suspensa no tempo, encontrava-se o produtor mais antigo da ilha do Pico e o maior produtor de vinho dos Açores. Nada mais do que a Adega Cooperativa do Pico que surgiu em meados do século XX (1949), numa época de dificuldades naturais, conseguiu manter-se em funcionamento, de forma contínua, apoiada por um grande número de produtores, maioritariamente proprietários de terras preciosas, de dimensão minúscula (área média por vinha com cerca de 0,3 ha). Também se destacou no esforço de tentar recuperar e preservar as castas nobres e a cultura da vinha nos currais tradicionais. Ainda hoje, continua a ser o maior produtor de vinho dos Açores, com cerca de 250 associados. Criados 45 anos antes do decreto que aprovou o Estatuto das Áreas Vitícolas da Região Autónoma dos Açores, em 1994, e antes da actual notoriedade, os vinhos dos Açores que ficaram na memória de quem visitou os Açores e bebeu o local néctares, eram quase todos da Adega Cooperativa do Pico. Caso de Terras de Lava, branco e tinto, durante muito tempo o vinho branco mais prestigiado e topo de gama chamado Frei Gigante, assim como Lajido, o primeiro vinho licoroso da Ilha do Pico, lançado no final de 1997, em a imagem dos famosos vinhos licorosos produzidos no Pico, feitos de Verdelho, e presentes nos mais requintados cortes dos séculos XVIII e XIX. Da versão original mais seca, que lembra alguns vinhos Sherry, secos e salgados, hoje há um meio-seco (um pouco mais doce), e recentemente lançou um Licor de 10 anos, que combina vinhos de várias safras em lote. A adega esteve sempre bem equipada, alvo de investimentos, e até de alguma inovação, na fase mais recente, ao pisar o acelerador e disparar para a qualidade mais refinada dos seus produtos, ensaiando e criando novos vinhos. Está posicionado mesmo no melhor nível de “competição” qualitativa que existe hoje no arquipélago. Neste contexto, não é desconhecida a chegada à Adega Cooperativa do Pico, de um dos mais competentes e talentosos enólogos do país. Bernardo Cabral, também seduzido pelo potencial, pela diferenciação das castas e pela envolvente única do Pico. Quase da noite para o dia, os vinhos da Adega do Pico e das suas marcas surgiram rejuvenescidos em imagem e qualidade. Novos tintos, e sobretudo brancos prodigiosos, com a incrível matéria-prima que os sócios orgulhosamente lhes disponibilizam. Inteligente e estratégico o lançamento pela adega de uma linha de vinhos brancos monocasta, elaborados com as três castas mais identificáveis dos Açores, sob o lema Terroir Volcanic, o Arinto dos Açores, que nada tem a ver com o Arinto do continente, o tradicional e único Verdelho e o raríssimo Terrantês do Pico, posicionado acima do emblemático e valioso Frei Gigante, que inclui um lote de três casas. Vinhos de enorme estrutura, frescura requintada e salinidade marcante. Os tintos, uma categoria de vinhos menos brilhantes, porque o clima e as condições não são as mais favoráveis para eles. Um desafio de dificuldades já enfrentado por Bernardo e sua equipe. Os novos tintos já mostram claros sinais de melhora. A imagem é contemporânea, muito apelativa. Como a inovação e a criatividade não param, ganha vida um novo projeto, o primeiro espumante da adega cooperativa, o Espumante CVIP Projectos 2016 Brut Nature, feito a partir da casta Terrantês do Pico, um estágio de três anos com leveduras livres, que já teve a honra de estar à mesa do Presidente de Portugal na passagem de ano de 2019 a 2020. Da revolução em curso nos vinhos açorianos, a Adega Cooperativa do Pico, é um dos produtores a ter sempre sob o olhar dos enófilos .