Coleção: Areias Gordas
Sobre o Produtor
Em Salvaterra de Magos, dois irmãos, Tomás e António Vieira da Cruz, desafiam o tempo e fazem vinhos que procuram engarrafar pedaços de terra. Estamos a falar de uma pequena propriedade familiar em Salvaterra de Magos, Terra Larga, onde nascem os vinhos Areias Gordas.
As origens de Salvaterra de Magos são antigas. A realeza e a nobreza também aqui se instalaram há séculos. Terras férteis, planas, com água disponível para navegação e irrigação, algumas das razões do povoamento real. Tem também tradição tauromáquica e pecuária.
As vinhas das Areias Gordas situam-se mesmo nas margens do grande rio, rodeadas de hortícolas, na planície, onde se fazem vinhos distintos com regras próprias, conforme a localização o exige.
Estão na sub-região do Campo, nos solos férteis do rio e das cheias aluviais. O Campo tem sido terra de vinhos brancos do Tejo, maioritariamente à base de Fernão Pires, trabalhados com elevados rendimentos devido ao elevado vigor vegetativo em solos férteis que originam vinhos de estrutura mais leve e carácter menos complexo. Exatamente o oposto do que nasce na casa dos Vieira da Cruz.
O avô de António e Tomás já produzia e vendia muito vinho daquelas vinhas, que estão na família há mais de 70 anos.
Após a sua morte na década de 1980, a produção passou a ser “vinho da casa”, até que um dos seis irmãos da nova geração, Tomás, economista de profissão, veio resgatar esta propriedade no Ribatejo, após uma obra de reconversão da vinha, e lançou o primeiro rótulo com a marca Areias Gordas em 1996.
Tomás deixou a sua marca em algumas casas de renome, quer como enólogo, quer como consultor, com passagens pela Adega Cooperativa de Borba, Sogrape Quinta dos Carvalhais, Dona Berta ou Quinta dos Termos, entre outras.
Tomás tornou-se o “vigneron” da casa, apoiado pela família, e António, que viaja sempre em trabalho, o melhor embaixador da marca.
Os 15 hectares de vinha de Terra Larga formam um rectângulo perpendicular ao rio. As vinhas, entre os 30 e os 70 anos, são constituídas por castas brancas como Fernão Pires, Arinto, Alvarinho, Sémillon, (a pensar na versatilidade que o Tejo traz), e Trincadeira das Pratas. Nos tintos a Tinta Roriz, Tinto Cão, Alicante Bouschet, Castelão, Trincadeira Preta, etc., com troncos grossos e raízes profundas, atingindo até seis metros, sujeita a uma poda muito curta para conter o excesso de vigor.
É deste terroir nada inspirador que saem vinhos verdadeiramente inspirados. Desde espumantes e vinhos brancos leves de volume, Tomás e António impressionam, pelo contrário, com brancos de caráter fabuloso, que desafiam o teste do tempo, até vinhos de sobremesa invulgares e até vinhos com uma “flor” de leveduras, como o “Jura ” ou Jerez!
Noutra vinha de três hectares, em Almourol, Praia do Ribatejo, na zona do Bairro, estão plantadas as castas Tinta Roriz, Tinto Cão, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e um pouco de Alfrocheiro Preto, para compor a complexidade sinfónica dos tintos profundos, fresco e igualmente durável da casa.
A Adega Terra Larga está mesmo dentro da vinha, colocando em prática o ditado “o vinho faz-se na vinha”. Por isso, procuram ser “muito australianos quando chegam as uvas”, para evitar qualquer ação indesejada de microorganismos nocivos, oxidação, temperaturas excessivas, e “depois do início da fermentação, somos muito franceses”, recomendando sempre que possível as leveduras autóctones , e intervenções mínimas, no melhor estilo da Borgonha.
O ano manda e na adega esta ordem é cumprida da melhor forma que sabem. Os vinhos contam com o tempo, o tempo meteorológico, o tempo necessário ao seu refinamento e desafiam o tempo com a sua reconhecida capacidade de envelhecimento.
Os vinhos de ano para ano têm um traço comum, uma personalidade própria, embora cada vindima possa ter uma combinação diferente de castas.
Tomás vê e sente o melhor do vinhedo todos os anos. Qual casta teve melhor desempenho e qual foi a personalidade de cada ano.
O atributo mais distintivo dos vinhos Areias Gordas, para quem já descobriu este segredo, é a capacidade de conservação dos brancos. Os tintos evoluem muito bem e ganham uma complexidade fascinante. Mas o destaque fica por conta dos vinhos brancos que, em versões monovarietais ou de batelada, ficam melhores após uma década em garrafa; mesmo a primeira safra de 1996 ainda está em uma forma fantástica.
Os vinhos Areias Gordas são ainda ilustres desconhecidos da grande maioria dos apreciadores. Quem experimentar o Terra Larga branco de 1999 ou o 5ª de Mahler de 2000, também branco, não os esquecerá tão cedo. Descubra-os e torne-se parte deste segredo.