Foi na Serra de Montargil, região do Alto Alentejo, que a família Tenreiro recuperou a antiga tradição vitivinícola da Herdade da Anta de Cima, perdida nos anos 50. Após a cuidadosa plantação das vinhas, a antiga adega de barro foi reabilitada, inspirando um excelente e já prestigiado portefólio de vinhos denominado Argilla. Esta é uma história de retorno. Um regresso às origens, ao encanto do sobreiro e do pinhal, à prodigalidade da terra, da vinha e dos seus frutos. É um regresso ao vinho, setenta anos após o início das últimas cepas da herdade, em boa hora recuperados. É o regresso à adega que resta, com os seus guinchos, agora recuperados. É o retorno a uma agricultura de produção sustentável e integrada que promove a biodiversidade, preserva os recursos hídricos e os solos e protege o ecossistema. É um regresso às castas portuguesas, aos vinhos de terroir, um regresso à sabedoria de outros tempos que a ciência e a tecnologia dos nossos dias sublinham e destacam. Foi em 2010 que as vinhas regressaram à Herdade da Anta de Cima; o habitat da perdiz-vermelho e do pombo, da galinhola e do pato real, da lebre, da raposa e da águia-real. Em 2012 foram produzidos os primeiros vinhos Argilla, culminando de um projeto familiar que os críticos e os apreciadores mais exigentes acalentaram desde o início. Este portefólio, nascido nas encostas de Montargil, engloba agora cinco vinhos distintos. A Talha de Argilla Branca MMXVI foi elaborada com uvas vindimadas manualmente em meados de agosto, provenientes de solos argilosos, sujeitos a fermentação e estágio de quatro meses em talhas de barro de 140 litros. Blend de Alvarinho, Verdelho e Viosinho, revela grande elegância aromática, com notas de brioche, cera de abelha e alperce em calda, e surge na boca harmonioso e texturado, sedoso, envolvente, com final longo, revelando um grande potencial de envelhecimento em garrafa. O Tinto Talha de Argila, do mesmo ano, mistura uvas de Alicante Bouschet, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Petit Verdot. Sujeito a estágio idêntico na escultura em argila, apresenta um nariz mineral intenso, complexo, especiado. Na boca surge envolvente, vegetal, com final longo e generoso. A casta Talha de Argilla Alfrocheiro revela todo o carácter da casta e a especificidade do terroir num nariz marcado pela argila, frutos pretos e especiarias, e na boca de grande suavidade, envolvente, equilibrada. Um vinho irresistível. Um caso sério de frescura e equilíbrio é o Argilla Branco de 2015. Sujeito a um estágio de 10 meses em cubas de inox, feito de Alvarinho, Verdelho e Viosinho, surge no nariz com grande equilíbrio entre notas frutais, vegetais e minerais : toranja, ervas aromáticas, giz. Na boca revela bom volume e acidez, notas de erva e fruta, um final fresco e longo, memorável. O Argilla Tinto MMXVI é um blend de Alicante Bouschet, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Petit Verdot, submetido a um estágio de 10 meses em tanques de aço inoxidável. Elegante no aroma, com notas de amora, marmelo, pimenta preta, surge na boca com taninos finos, estruturado, final longo e fresco. Este é um vinho muito gastronômico. Em suma, cinco vinhos que nos prezam pela competência técnica e sensibilidade dos enólogos Paulo Tenreiro e Nuno Mira do Ó, a Herdade da Anta de Cima soube ressuscitar a elegância e o carácter dos notáveis vinhos do Alto Alentejo, legitimando as tradições vitivinícolas que se extinguiram há sete décadas. Para a família Tenreiro, e para todos nós, é sem dúvida uma aposta vencedora.